Estabilização Segmentar Vertebral

Dor cervical é uma queixa relativamente comum e afeta 70% dos indivíduos em algum momento de suas vidas. Ela tem um impacto considerável sobre os indivíduos e as suas famílias, as comunidades, os sistemas de saúde e empresas. Há uma grande heterogeneidade entre os estudos epidemiológicos dor cervical, dados internacionais sugerem uma prevalência entre 10 – 20%.  (Ariens et al, 1999; Cote et al, 1998; Helewa et al, 1994). A dor cervical tende a ser uma desordem persistente e recorrente, e 60% das pessoas podem experimentar um pouco da dor inicial por muitos anos depois do primeiro episódio. (Gore et al, 1987)

A Dor cervical pode estar presente em patologias inflamatórias, como artrite reumatoide, mas de longe, a causa mais comum da origem da desordem na cervical é benigna e está relacionada a desordens originadas no sistema musculoesquelético. Alterações posturais, mudança na ativação e propriedades do músculo, tornam o programa de exercícios adequado, uma ferramenta chave para um bom prognóstico.

Há 16 anos a Fisioterapia Mundial Musculoesquelética, deu o primeiro passo para concretizar sua efetividade científica. Em outubro de 1999, um grupo de fisioterapeutas entre eles Gwendolen Jull, na época chefe do departamento de Fisioterapia da Universidade de Queensland, Brisbane, Austrália, deram início ao movimento da Fisioterapia Baseada em Evidência com a elaboração do primeiro banco de dados de Fisioterapia, PEDro database – Physiotherapy Evidence Database. Naquele momento surgia a Nova Era da Fisioterapia Musculoesquelética.

Em fevereiro de 2000, vinte três fisioterapeutas de diversos países, dentre eles, eu, Carla Danielle Chagas , iniciamos Mestrado Profissional na área da Terapia Musculoesquelética na Universidade de Queensland, onde Fisioterapeutas pesquisadores como: Paul Hodges, Julie Hides, Carolyin Richardson e Gwendolen Jull, eram professores e responsáveis por a uma série de pesquisas patrocinados pelo Comitê Aeroespacial Europeu, NASA e Seguradoras Australianas cujo o tema principal era identificar estratégia efetivas para tratamento de dor lombar. Eles publicaram o primeiro livro Therapeutic Exercicse for  Spinal Segmental Stabilization in Low Back Pain em 1999, resultado de uma série pesquisas sobre Biomecânica, Bioengenharia, Fisiologia e Anatomia do Sistema Musculoesquelético da região lombar.

A partir desses resultados deu-se início a hipótese de que os músculos profundos, com maior percentual de fibras do Tipo I, respondiam com inibição a presença de dor e quando comparados a controle sua ativação era atrasada. A primeira apresentação desse trabalho ocorreu no III Congresso de Dor Lombar e Pélvica na Áustria, na época Paul Hodges apresentou os resultados sobre a suposta perda de antecipação do Transverso do Abdômen, o que causou uma reviravolta nas linhas de pesquisa sobre o assunto. Os questionamentos sobre a mudança no padrão de ativação dos músculos profundos lombares na presença de dor, a teoria de Mohamed Panjabi sobre Estabilidade Segmentar ideal e a nova definição de Instabilidade – Instabilidade Clínica,  e uma grande lacuna científica sobre como tratar indivíduos com dor lombar, culminou com uma nova abordagem de tratamento: Exercícios Terapêuticos para Estabilização Segmentar Vertebral.

De 2000 a 2003, a relação da atividade muscular dos Músculos Profundos: Transverso do Abdômen, Multífido, Assoalho Pélvico e Diafragma, no controle de dor lombar e pélvica foram disseminado no Brasil em vários Cursos de Extensão, Congressos, Encontros Científicos e até na mídia televisiva e escrita. A partir de 2004 uma nova classificação muscular surgiu e o conceito foi reformulado acrescentando a importância de analisar e corrigir padrões de movimento disfuncionais e a postura em tempo real e em situações cotidianas.

Vladimir Janda, Shirley Sahrman e mais tarde, Peter O’Sullivan, interessados em melhorar a identificação e consequentemente os diferentes tipos de apresentação e tratamento de dor lombar, criaram sub-classificações baseadas em desequilíbrios musculares e apresentação clínica dos padrões de movimento disfuncional. Nesse momento a recuperação da ativação independente do transverso disseminada para todas as lombalgias, deixa de ser o elemento principal, e o julgamento sobre mobilidade e estabilidade e sua proporcionalidade ganha espaço. Em 2016, a proposta é desenvolver raciocínio ainda mais crítico e especializado para os indivíduos com dor lombar.